Folha de S.Paulo
O Além a favor
No tempo das monarquias, os reis eram reis por direito divino. Ou seja, eram plebeus que, por mérito ou não, as instâncias superiores promoviam a reis. Essa promoção, sagrada pela igreja, se estendia aos primogênitos da sua linhagem.
Donde se conclui que o sucesso de um reinado dependia muito da providência divina -afinal, fora ela que entronizara o primeiro governante da série. Às vezes, a dita providência, insatisfeita com os rumos que o rei estivesse tomando, o castigava com chuvas, pestes, secas e outras desgraças, para obrigá-lo a tomar jeito. Daí também que o fato de contar com a providência não livrava o rei de ter de se empenhar como um mortal para o bom andamento de seu reinado.
Nas repúblicas modernas, os governos são eleitos pelo voto popular, o que em tese dispensa a interferência do sobrenatural. Mas tolo será o governante que não tiver pelo menos um aliado no Além -porque há certos fatores que independem de decretos, conchavos ou compra de políticos e juízes.
Que o diga o prefeito do Rio, Cesar Maia. Mesmo sendo bom de voto, ele não abre mão das forças ocultas. Todo ano o Rio exige sol a pino em ocasiões como o réveillon e o Carnaval. E Cesar não deixa a critério das nuvens a decisão de chover ou não. Sempre que preciso, ele recorre à Fundação Cacique Cobra Coral, uma instituição carioca que mantém estreitas relações com os espíritos do vento e da chuva.
Se um toró ameaça desabar sobre os feriados, Cesar vai ao cacique e, pode crer, as águas recuam e temos sol e lua até o último turista. Nenhum gringo leva uma gota. Desta vez, o tempo estava horrível no Rio e era preciso providenciar um céu olímpico para os primeiros dias do Pan. Ele invocou a cobra coral, esta se mexeu e produziu um céu que ninguém se atreveria a vaiar.