Um blecaute anunciado

Um blecaute anunciado

JORNAL DO BRASIL

Rio de Janeiro, 15 de março de 1999

Cristiana Nepomuceno

Um blecaute anunciado

Médium mandou o alerta a ministro em dezembro de 98

BRASÍLIA – Uma pacata senhora paranaense, de idade não revelada, advertiu em dezembro o Ministério das Minas e Energia e o Operador Nacional do Sistema (ONS) sobre o blecaute de Quinta-feira à noite. A pacata senhora, que atende pelo nome de Adelaide Scritori, é a principal médium do Núcleo de Apoio Operacional da Fundação Cacique Cobra Coral, entidade esotérica-científica, corn sede em Guarulhos (SP), especializada em corrigir os desvarios do clima. A Fundação controla a empresa Tunikito Corporation, que enviou fax ao então ministro das Minas e Energia, Raimundo Brito, alentando para o risco de um blecaute na primeira quinzena de março.
O site da Fundação na Intemet diz que Adelaide, que nunca falou com a imprensa nem se deixou fotografar, nasceu “debaixo de um desastre meteorológico e recebeu a missão de evitá-los”. Ela diz que incorpora o espírito do chefe indígena americano Cobra Coral, que,. em outras encarnações; teria Sido Galileu Galilei e Abraham Lincoln.

Tufão – 0 site afirma que, enquanto os melhores serviços meteorológicos conseguem trabalhar com previsões de no máximo uma semana, o Cacique Cobra Coral faz previsões para meses e até anos. “Cobra Coral pode empurrar uma frente fria de um lugar para outro, derrubar um centro de pressão atmosférica evitando um tufão e até fazer sumir uma geada, diz o texto. A Fundação, cujo lema é “luz que ilumina os fracos e confunde os poderosos”, informa que tem como clientes governos estaduais, ministérios, multinacionais, e políticos, como o governador de Santa Catarina, Esperidião Amin, o ex-presidente José Samey e o senador Gerson Camata (PMDB-ES).
0 secretário da Casa Civil de Santa Catarina, Celestino Secco, confirma que, em 1983, a entidade previu que grandes enchentes iriam inundar o Vale do ltajaí. Secco era assessor especial de Amín; então no primeiro mandato de govemador, e recebeu um telegrama. da Fundação, advertindo que, se não houvesse limpeza dos dos rios da região e tratamento adequado das margem, as chuvas inundariam o Vale do Itajaí.

Ceticismo – O secretário catarinense disse que a previsão se confirmou. Em 1983 as águas invadiram o Vale e em 1984 as enchentes atingiram quase todo o estado. Nessa época, pela primeira vez no país, o público passou a ouvir falar do fenômeno climático El Niño. Secco conta que recebeu o telegrama da Fundação com “um certo ceticismo”. Segundo ele, as enchentes ocorreram porque as obras de contenção das encostas e drenagem dos rios só foram concluídas cm 1991. Apesar do ceticismo, Secco confessa que, a pedido de Amin, visitou a sede da fundação três vezes, para pedir que os médiuns orassem por Santa Catarina.
“Quando o estado precisa, você tem usar tudo, inclusive a reza”, disse. Segundo ele, a partir de 1991, não houve mais enchentes de grandes proporções em Santa Catarina. “Fizemos um trabalho de contenção das cheias e correções nas margens dos rios e córregos, mas é possível que a reza da Fundação também tenha ajudado.”

O site da Fundação Cacique Cobra Coral na Internet (www. fundacaocoral.com.br) relata várias previsões e alertas ,feitos pela médium Adelaide Scritori. De todas as previsões, a que trouxe mais tristeza à médium foi a visão da morte do deputado Ulysses Guimarães. Em 26 de setembro de 1992, Adelaide teria enviado um fax a Ulysses, alertando: “Evite voar em aeronave de pequeno porte durante a primeira quinzena de outubro próximo”. No dia 12 de outubro, o helicóptero que levava o deputado de Angra dos Reis para São Paulo caiu no mar.
O texto diz ainda que a Fundação acertou, em 1987 uma operação com o vice-presidente Marco Maciel, que na época era ministro chefe da Casa Civil do governo Sarney, com o objetivo de fazer chover sobre o lago da usina hidrelétrica de Sobradinho (BA). Em troca, o governo se comprometeria a concluir as obras do linhão de transmissão de energia de Tucuruí e liberar verbas para as barragens de Itaparica e Xingó.

O texto informa que a operação foi coordenada por Mário Santos, atual presidente do ONS, e Benedito Carraro, diretor da Elelrobrás. Na época, ambos estavam na Chesf (Companhia Hidroelétrica do São

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